Infelizmente
não se pode chamar o testemunho ou o depoimento daqueles que já se
foram. Embora muitos acreditem que se possa, eu, infelizmente, ainda
não passei por esta experiência. Se tivesse melhor sorte, e fosse
daqueles que podem, ou dizem que podem, se comunicar com os
desencarnados, chamaria a manifestação do conterrâneo Gessy Lima.
Gessy, todos sabem, foi um expoente do futebol brasileiro. Era
dentista e jogou no Grêmio. Seu apelido era “Craque Paradoxal”,
pois não gostava de jogar. Nos dias em que prestou vestibular, o
Grêmio encontrava-se em viagem ao Uruguai e a Argentina. No dia
anterior ao jogo em Buenos Aires, na já famosa Bombonera, contra o
temível Boca Juniors, Gessy comemorou por toda a madrugada, em Porto
Alegre, a sua aprovação no vestibular e foi de avião no dia do
jogo. Reza a lenda que chegou no estádio 11 minutos antes do jogo,
ou que, ainda, teria sido escondido pelo dirigente uruguaianense Ari
Delgado, dado o seu estado, e só apresentado na hora do jogo.
Desmanchou o Boca, fazendo os 4 gols do Grêmio, sendo aplaudido de
pé pelos portenhos, naquele que foi o primeiro jogo em que o Boca
perdeu na Bambonera para um time estrangeiro. O placar final foi 4 x
1. Como já foi dito, isto todo o mundo sabe.
Mas
existem passagens da vida de Gessy que somente alguns conhecem. Como
conheço-as, acho oportuno trazê-las a público neste momento em que
um dos partícipes destas passagens é covardemente agredido com o
uso da imagem de Gessy. O “Craque Paradoxal”, tinha dois amigos
inseparáveis de infância: o melhor jogador de vôlei de sua época
em Uruguaiana, futuro professor de Educação Física e que ficaria
conhecido entre os mais jovens como técnico de basquete: Manuelão;
e o atual Prefeito de Uruguaiana, José Francisco Sanchotene Felice.
Os três eram amigos inseparáveis desde que tinham ao redor de dez
anos de idade. Felice e Gessy, depois em Porto Alegre, estudaram
juntos (na mesma universidade, em cursos diferentes) e faziam festas
juntos. Eram como se fossem irmãos. Estas afirmações são fatos.
Não são folclore. Há inúmeras testemunhas vivas disso, nas quais
busquei estas informações. A vida seguiu seu rumo e, em 1988 ou
1989, quando Felice era Secretário de Administração de Pedro
Simon, Gessy, padecendo de um câncer avançado, já quase caminhando
com ajuda, resolve recorrer ao amigo. Gessy não estava suportando
financeiramente o tratamento (lembrem-se que o SUS data de 88).
Felice, no mesmo dia em que recebeu Gessy, um uruguaianense, muito
mais do que ídolo gremista, um esportista de renome nacional,
nomeou-o Presidente da CIMOR, uma Comissão da Secretaria de
Administração que avaliava riscos de insalubridade e periculosidade
na função pública estadual. Recebendo pouco menos do que o
Secretário da Administração, Gessy custeou seu tratamento e
desempenhou suas funções quase até falecer, pois tratava-se de um
trabalho intelectual.
Um dos
maiores jogadores do Grêmio de todos os tempos, se não o maior, o
grande desportista estadual e nacional, uruguaianense, morreu com
dignidade graças ao amigo de infância, que, a pedido da família,
foi o orador da sua despedida, no seu velório, nas dependências do
Estádio Olímpico Monumental, do Grêmio, em Porto Alegre.
Mas, por
incrível que pareça, ainda tem mais: Gessy foi testemunha do
bullying sofrido pelo Prefeito em sua infância, em virtude da
profissão de seu pai. Como todos sabem, Pedro Felice, o pai de
Sanchotene, era Agente Funerário. Apesar de ser uma profissão digna
e honrada, como todas as outras, sofria um execrável preconceito
(segundo testemunhas, pessoas chegavam a se abaixar ao passar em
frente a sua casa, para não serem medidas). Como execráveis são
todos os tipos de preconceito. E aqui entramos numa seara delicada. O
bullying, por si só, é abjeto. Felizmente, graças ao avanço das
ciências humanas e sociais, foi identificado no século passado e
tem sido alvo de campanhas de esclarecimento, a fim de que seja
evitado. São enormes as pesquisas e estudos a respeito das marcas
indeléveis que deixa naqueles que não conseguem superá-lo. E o
alvo dessas campanhas são justamente os seus autores: crianças e
adolescentes, que por vários motivos (maldade pura e simples, falta
de educação e/ou limites, tentativa de afirmação, etc...),
praticam-no. O que não se faz, via de regra, é punir o seu autor,
seja pela sua imaturidade como criança, ou a própria
inimputabilidade legal, ou, ainda, pela falta de previsão legal que
tipifique-o como delito. Então, temos, na maioria das vezes, como
autor do bullying, alguém imaturo ou problemático.
O que
não se admite, porém, é a repetição do bullying, sessenta e
tantos anos depois, feito por um adulto, que teoricamente deveria ter
a noção do que está fazendo e a decência de não fazê-lo. E
aqui, caro leitor, chegamos ao motivo deste texto: o jornalista
Wolmer Jardim, na sua última coluna, no Jornal Momento, falou de um
pretenso embate entre Felice (que tratou por Bomba, no primeiro
bullying do texto) e Gessy, que nunca aconteceu. É o jornalismo
sobre boato. Não existe testemunha de que o Prefeito tenha afirmado
que tal embate existiu. Isso não aconteceu, foi inventado, e o
jornalista embarcou. Felice e Gessy jogaram futebol em Uruguaiana.
Felice jogava no Universal e Gessy no Uruguaiana. Eram times que não
se enfrentavam, por ser o primeiro, amador, e o segundo,
profissional. Depois jogaram futebol em Porto Alegre. Felice jogou no
Nacional e Gessy no Grêmio. Também eram times que muito raramente
se enfrentavam, pela diferença de categoria. Depois jogaram juntos,
no mesmo time, na Seleção Gaúcha Universitária, Gessy como
titular e Felice como reserva do zagueiro do Renner, campeão gaúcho.
Disso sim, há inúmeras testemunhas.
Com a
justificativa de tal embate, o jornalista traça um paralelo entre os
dois, com desfecho claramente desfavorável a Felice. Se compararmos
a carreira futebolística dos dois, pode haver um vitorioso, ou mais
bem sucedido. Mas como comparar a carreira de um atleta com a
carreira de alguém que se dedicou à vida pública? É o mesmo que
dizer que os meus tomates são mais vermelhos que as tuas cebolas.
Não existe.
Mas, à
guisa de esclarecimento, vamos lá: Felice foi Deputado Estadual duas
vezes, uma delas constituinte, Secretário de Administração do
Estado, duas vezes Prefeito de Uruguaiana, com aprovação popular
inquestionável e Conselheiro Federal de Educação, só para ficar
nos cargos maiores. Isso é pouco, jornalista? Por favor.... Só que,
para depreciar Felice, neste embate, o jornalista Wolmer, num ato
infame, deseducado, deselegante e, atrevo-me, doentio, traz o
bullying de volta, sessenta e tantos anos depois, como já afirmei,
dizendo que Felice terminaria seus dias abrindo uma funerária na
Capadócia. (Me pergunto se o jornalista ainda tem o preconceito
daqueles dias e não aceita patrocínio de funerárias nos seus
“órgãos jornalísticos”). E mais, ou que ainda termina seus
dias como prefeito de uma cidadezinha interiorana. “Cidadezinha
interiorana”, pode, a princípio, não parecer ofensivo a
Uruguaiana. Só que ao incluir a afirmação numa série de possíveis
finais depreciativos para o Prefeito, o jornalista, obviamente,
deprecia a sua cidade e seus concidadãos. Como se Uruguaiana fosse o
Inferno de Dante. E, vejam bem, estamos falando daquele que teria
todos os motivos do mundo para não por mais os pés aqui, se não
tivesse superado as provocações traumáticas da infância.
Este
comportamento (o do Prefeito) tem nome: sublimação. A sublimação
é a mais importante defesa do “ego” e uma das características
mais importantes de adaptação à vida, do ser humano. A sublimação
se dá quando as energias positivas e negativas oriundas de um mesmo
fato negativo (no caso, o bullying) são canalizadas em prol de um
único objetivo positivo, no caso do Prefeito, servir ao público.
Nem os opositores e nem mesmo os detratores, como o jornalista
Wolmer, podem falar que o Prefeito não tenha vocação para servir.
Agora, eu questiono, prezado leitor: por que um jornalista, que toda
a cidade sabe que está a soldo do Dep. Frederico Antunes, que só
passou a criticar a Administração quando perdeu seu patrocínio
(parece que isso está ficando comum aqui), que presta seus serviços
de “jornalismo” a quem os contrate, criando inimizades de cidade
em cidade, que não cria raízes em lugar nenhum, e perambula por
aqui e por acolá, e para voltar a estes lugares tem que fazê-lo com
discrição, escreve uma barbaridade dessas? A serviço de quê e de
quem está esse senhor? E justamente em período eleitoral...
Um dos
gigantes da literatura universal, o argentino Jorge Luis Borges,
escreveu “História Universal da Infâmia”. O nem tão grande
Juremir Machado da Silva escreveu “História Regional da Infâmia”.
Quem se atrever a escrever a “História Uruguaianense da Infâmia”
já pode reservar um capítulo ao dileto filho do Plano Alto, Wolmer
Jardim.
ps: para
quem não sabe, Pedro Felice praticamente doou a sua Funerária,
vendendo por preço simbólico, a preço de banana mesmo, para a
Santa Casa de Uruguaiana, quando se aposentou e se retirou do
negócio, para que esta o explorasse. Aqueles do ócio criativo
podiam explicar-nos, em resposta, que fim levou o empreendimento,
haja vista terem, a maioria, participado da administração daquele
nosocômio.